Pensando bem ... tá tudo assim tão diferente




Tenho os sentidos todos perdidos
aqui, ali e sempre.

Ser humana não foi uma vontade minha
e diante disso eu faço o que posso.



- Como voltar sem ter deixado coisa alguma para marcar o caminho?
Eu perdi pra sempre a casa de doces?
Como voltar por uma estrada que já não leva para o mesmo lugar?
Passo por passo. Só que eu não sei mais caminhar. Desaprendi de uma vez a delicadeza do percorrer.

Agora eu desabalo.


O amor não me esconde mais da vida. O escudo era de vidro, o anel se fundiu... E virou ouro. Nada mais do que ouro. E ouro tem que vender pra sobreviver.


...

A casa ficou assim. Abertas as cortinas. Reviradas as fotos. Desenroladas as toalhas. Trocada a ordem das almofadas sobre o sofá. Desfeita a cama. Terminado o aromatizador. Esquecidas as contas. Rasgada a lista de compras do mês. Desajustada a antena. Desvirado o elefante. Empoeirado o enfeite. Despidos os cabides um por um. Torto o quadro. Caído o pano de prato. Desligada e guardada a calculadora. Deixado o anel.
Não ficou nada. Em nenhum canto ou gaveta, dentro da máquina de lavar ou da geladeira, no armário do banheiro, embaixo da cama, atrás das portas, na caixa de cds ou nos arquivos do computador.
Mas a casa meio vazia era 'eu'. Um livro sim, um livro não, todos os vãos constando na estante. A macela secando no varal. O fio de cabelo escorregando pelo box de vidro. O resto do sabonete de erva-doce melecando a saboneteira. O café destampado perdendo o aroma.

...

(algo meio Chico Buarque de Holanda)

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